Se você tem entre 35 e 50 anos como eu, é fanático por música e nasceu e foi criado em Nikity Rock City, há tempos percebeu que não temos mais shows de Rock na nossa cidade. Sim, a prefeitura municipal faz esporadicamente alguns eventos, mas não temos mais produtores trazendo artistas para tocar por aqui.
Para quem não sabe um pouco de história, digo sem medo de errar que somos o berço do Rock brasileiro dos anos 80 ou você nunca ouviu falar da seminal Rádio Fluminense FM, A Maldita, que revelou o Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho, ao mesmo tempo que democraticamente dava espaço para bandas menos bem sucedidas como Agua Brava, Kongo, De Falla (aposto que nunca ouviram falar desses grupos)?
Em Niterói, artistas como Alynaskyna, Saara Saara, Kakao Figueiredo e seu Artigo 171, bandas de Heavy Metal como o Destroyer e Taurus, tentavam "na raça" mostrar sua arte e nesse clima inquieto, tínhamos um público sedento por música e arte, o que tornava a luta desses guerreiros justificada, mesmo sem terem conseguido um lugar ao sol no fim do dia.
Shows de emergentes roqueiros nos Colégios Salesianos, Abel (La Salle), Assunção eram frequentes. Quem nunca viu Lulu Santos, Titãs, Engenheiros do Havaí, Capital Inicial, entre muitos outros, ao vivo, não tem noção como era nossa cidade. E o saudoso Celso Blues Boy tocando na Praia de Icaraí? Eventos lotados e um clima de descobertas no ar. Aposto que pelo menos um dos leitores deu o seu primeiro beijo ao som de "Tempos Modernos", "Música Urbana II" ou até mesmo "Polícia", opa, nessa eu exagerei, confesso.
Os anos 90 não foram diferentes. Com o Rock institucionalizado no meio da nossa juventude, as pessoas assistiam shows no Bedrock, Campo de São Bento, DCE da UFF, Cantareira e era normal termos novos artistas como Planet Hemp, Raimundos, O Rappa fazendo a alegria de muita gente em shows antológicos e completamente lotados.
Com o fim da Rádio Fluminense, ficou mais difícil para os novatos terem o mesmo espaço que a geração passada teve, ainda sim, On Jack Tall Black, Tornado, DKV, deram seus primeiros shows e continuavam na árdua batalha que todo artista iniciante se identifica completamente.
Entramos no novo século e o cenário começou a mudar. Fabio Rocco e seu projeto "Reggae No Asfalto" foi o start de algumas faíscas como o "Nikity All Stars" que trazia músicos como André Geleia, Dilsinho DKV, Eduardo Manu, tocando na extinta casa Waxy em Santa Rosa, mas o material autoral começava a perder espaço para os covers de hits radiofônicos e assim se deu o início da derrocada roqueira.
Chegamos nos dias de hoje e o que temos? Artistas como o Blood Mary, o guitarrista Gustavo Di Pádua e o Tarmat, contratado pela maior gravadora de Rock europeia, a Frontiers, tentam mostrar a sua arte, porém falta lugar, falta público, falta iniciativa privada, enfim, FALTA TUDO!
Costumo chamar atualmente o estado do Rio de Janeiro de "Túmulo do Rock". Pode parecer forte, mas baseado na falta de shows e espaços para novas bandas, esse apelido dado por mim parece justo e se o Rio anda mal das pernas, o que podemos dizer de Niterói?
Se o Rock (ainda) não morreu, definitivamente ele agoniza...
Por
Tarcísio Chagas
Crítico musical
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