Quinta, 16 de Janeiro de 2025
23°

Chuvas esparsas

Niterói, RJ

Dólar
R$ 6,03
Euro
R$ 6,19
Peso Arg.
R$ 0,01
Essência Essência

A indústria da moda e o papel essencial das costureiras: Desafios e caminhos para a valorização

A indústria da moda e o papel essencial das costureiras: Desafios e caminhos para a valorização

16/12/2024 às 12h01
Por: Redação
Compartilhe:
A indústria da moda e o papel essencial das costureiras: Desafios e caminhos para a valorização

A indústria da moda é um reflexo do imaginário humano, traduzindo conceitos e tendências em peças de vestuário que impactam cultural, social e economicamente. Contudo, a base que sustenta esse universo glamouroso — as costureiras — é frequentemente negligenciada, sofrendo com desvalorização, baixos salários e condições de trabalho análogas à escravidão em muitos casos. Essa realidade tem implicações graves para o setor, incluindo a escassez de novos profissionais e a falta de incentivo para a continuidade dessa profissão essencial.

A costura é a etapa final na criação de uma peça de roupa, o momento em que ideias ganham forma e funcionalidade. É nesta fase que conceitos são postos à prova, confirmando sua viabilidade prática. Apesar de sua importância, as costureiras raramente recebem reconhecimento. No Brasil, a maioria atua como terceirizadas, recebendo valores irrisórios por produção em massa, enquanto as peças são vendidas com margens de lucro que ultrapassam 200%. Essa exploração desmotiva a classe e afasta estudantes de moda da prática da costura, perpetuando a visão de que essa área está em decadência.

Para reverter esse cenário, é essencial implementar estratégias que valorizem as costureiras e restabeleçam o equilíbrio na cadeia produtiva da moda. Um dos primeiros passos é a capacitação profissional, com foco em empreendedorismo e economia solidária. Muitas costureiras, especialmente aquelas em pequenas confecções ou atuando como microempreendedoras individuais, enfrentam desafios como a falta de recursos para investir em melhores condições de trabalho. Oferecer acesso a crédito e promover cursos técnicos podem ser soluções eficazes. Esses cursos devem incluir não apenas habilidades técnicas, mas também competências em gestão financeira, empreendedorismo e direitos trabalhistas. A introdução de modelos de economia solidária pode fortalecer o trabalho coletivo e aumentar a autonomia das costureiras, promovendo alternativas sustentáveis e justas de produção.

Outro ponto fundamental é a redistribuição de valores salariais dentro das equipes de produção. Garantir uma remuneração justa é crucial para que as costureiras tenham condições dignas de trabalho e possam se sentir valorizadas. Além disso, essa medida incentivaria a transferência de conhecimento para futuras gerações, garantindo a preservação do papel da costura na cultura e na economia.

Além disso, é necessário abordar as questões de gênero que atravessam o cotidiano das costureiras, majoritariamente mulheres. Muitas enfrentam formas sutis e graves de violência de gênero, desde a falta de reconhecimento até assédios e situações de exploração no trabalho. Promover debates e ações que abordem essas questões, em suas nuances mais sutis até as mais extremas, é fundamental para criar ambientes de trabalho mais seguros e inclusivos. Esses debates devem incluir tópicos como igualdade de oportunidades, combate as violencias e promoção de um espaço que respeite e valorize o papel feminino na cadeia produtiva da moda.

Por fim, é imprescindível intensificar a fiscalização para combater o trabalho precário. O modelo de fast fashion, que prioriza a produção em massa a baixos custos, tem agravado a exploração de trabalhadoras. Empresas globais como a Shein, frequentemente acusadas de condições degradantes de trabalho, exemplificam o impacto negativo desse sistema. O envolvimento de organizações internacionais, como a ONU, e de autoridades locais é essencial para garantir a proteção dos direitos das trabalhadoras. Operações regulares de checagem podem assegurar que as peças sejam produzidas com mão de obra justa, ainda que isso resulte em preços finais mais elevados.

A moda é tanto um reflexo da sociedade quanto um motor de transformação cultural. Valorizar as costureiras não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia necessária para a sustentabilidade da indústria. A combinação de ações integradas — redistribuição salarial, capacitação em empreendedorismo e economia solidária, debates sobre violência de gênero e fiscalização efetiva — é o caminho para construir um setor mais ético, inclusivo e próspero. Afinal, não há glamour sem as mãos habilidosas que transformam ideias em realidade.

Por Thamiris Moreira é designer de moda, figurinista e produtora.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Ele1 - Criar site de notícias